O acúmulo de lixo espacial em torno da Terra é um problema que se agrava a cada ano. Estimativas apontam para a existência de mais de 130 milhões de fragmentos orbitando o planeta, com tendência de crescimento, Espacial Europeia. Essa crescente concentração de detritos levanta preocupações sobre o impacto potencial em sistemas cruciais, como GPS, comunicações via satélite e previsões meteorológicas.

Embora um impacto direto do lixo espacial na superfície terrestre seja considerado improvável, especialistas alertam para os efeitos indiretos que essa poluição orbital pode causar nos equipamentos em órbita. A operação de satélites de navegação, telecomunicações e monitoramento climático depende de trajetórias livres de interferências, um cenário cada vez mais desafiador devido ao aumento do lixo espacial.

Um professor de Engenharia Mecânica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) explica que partículas metálicas liberadas durante a reentrada de satélites podem causar distorções eletromagnéticas. Esses fragmentos, ao permanecerem em órbita ou se dispersarem na alta atmosfera, podem refletir, dispersar ou absorver ondas eletromagnéticas, afetando a propagação de sinais de GPS, telecomunicações e a operação de satélites de observação. Em larga escala, isso pode elevar o ruído de fundo e comprometer a precisão das estimativas de posicionamento.

Entretanto, um astrofísico da Universidade Católica de Brasília (UCB) pondera que essa interferência ainda não é significativa no contexto atual, pois as partículas metálicas tendem a cair rapidamente, sem massa ou distribuição suficientes para afetar sinais de rádio.

A previsão do tempo, que depende de satélites equipados com sensores para medir radiação, umidade, temperatura e a dinâmica das nuvens, também pode ser afetada. O aumento do lixo espacial expõe esses instrumentos a falhas e interferências. Fragmentos cruzando o campo de visão podem gerar reflexões espúrias em radares de observação da Terra ou degradar a qualidade de dados usados em modelos numéricos. Apesar de o efeito ser mínimo atualmente, a continuidade do acúmulo de detritos pode torná-lo um problema real no futuro.

A maior vulnerabilidade reside nas tecnologias que dependem de satélites, como a internet via constelações em baixa órbita. O lixo espacial interfere mais nos equipamentos em órbita do que nos sistemas terrestres.

O risco de colisões é uma das maiores preocupações. Fragmentos, mesmo os pequenos, podem viajar a velocidades de até 28 mil quilômetros por hora. Uma colisão com essa energia pode destruir um satélite por completo, comprometendo satélites de comunicação, navegação, sensoriamento remoto e previsão do tempo. Além disso, cada colisão gera ainda mais fragmentos, agravando o problema em um efeito cascata.

Embora o Brasil não opere grandes constelações de satélites próprias, o país é vulnerável, pois depende fortemente de equipamentos internacionais. Qualquer degradação na qualidade dos sinais pode afetar setores como agricultura, aviação, previsão do tempo e monitoramento ambiental. A proximidade da Anomalia Magnética do Atlântico Sul também torna o ambiente ainda mais exigente para equipamentos em órbita.

Tecnologias para reduzir o lixo espacial já existem, mas ainda estão em fase experimental. Há projetos em desenvolvimento que incluem satélites de captura com redes ou braços robóticos, dispositivos que aceleram a reentrada ao fim da missão e materiais que queimam de forma mais completa na atmosfera. O setor busca soluções mais sofisticadas de prevenção, como o uso de materiais que reduzam a formação de partículas metálicas e procedimentos de monitoramento e manobras para evitar colisões. No entanto, a ausência de um sistema ativo e eficaz de limpeza e os desafios técnicos e financeiros ainda são obstáculos a serem superados.

Fonte: www.metropoles.com

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