A Barbie, por décadas, tem sido apresentada ao público como um símbolo de inovação, empoderamento e versatilidade, moldando a percepção de gerações sobre a beleza e o papel feminino. Sua história, contada pela fabricante Mattel, sempre enfatizou sua natureza revolucionária no universo dos brinquedos, destacando sua capacidade de adaptação e representatividade ao longo do tempo. No entanto, uma nova obra literária ameaça desvendar uma história secreta e menos gloriosa por trás da boneca mais famosa do mundo. O livro “Barbieland: The Unauthorized History”, da autora Tarpley Hitt, emerge para desafiar essa narrativa oficial, prometendo revelar detalhes obscuros sobre a gênese e o estabelecimento do ícone.

De acordo com a pesquisa de Hitt, a Barbie não teria sido uma invenção totalmente original ou uma novidade sem precedentes. Em vez disso, a autora argumenta que a boneca pode ter sido uma “imitação barata”, cujo sucesso foi meticulosamente construído por meio de estratégias de marketing agressivas, exploração de ideias alheias, intimidação de concorrentes, atos de traição e até mesmo espionagem industrial. Esta contranarrativa sugere que a Mattel empreendeu esforços consideráveis para ocultar a verdadeira origem de sua estrela, questionando a autenticidade de sua reputação como uma pioneira.

A origem questionável da ícone

A narrativa oficial da Mattel posiciona Ruth Handler, co-fundadora da empresa, como a mente brilhante por trás da Barbie, inspirada ao observar sua filha brincar com bonecas de papel e desejar uma versão adulta e tridimensional. Contudo, o livro de Tarpley Hitt apresenta uma versão alternativa e muito mais complexa, sugerindo que a verdadeira inspiração e design da Barbie podem ter raízes em outro lugar, bem antes de seu lançamento em 1959.

A inspiração alemã: Bild Lilli

Tarpley Hitt aprofunda-se na figura da boneca alemã Bild Lilli, um brinquedo que, segundo a autora, exerceu uma influência considerável e, até então, subestimada na criação da Barbie. Lilli não era apenas uma boneca; ela possuía uma rica história cultural e uma popularidade notável na Europa antes mesmo de a Barbie ser concebida. Sua trajetória começou em 1952 como uma personagem de tira cômica no tabloide alemão Bild, conhecida por seu humor atrevido e sua persona de mulher independente e sedutora. Em 1955, Lilli ganhou vida na forma de uma boneca, vendida inicialmente em bancas de tabaco e posteriormente em lojas de brinquedos, consolidando sua presença no mercado europeu.

A influência de Lilli era tão significativa que, em 1958, ela estrelou seu próprio filme live-action – um feito notável que a precedeu em 65 anos em relação ao lançamento do filme da Barbie com Margot Robbie. Esta cronologia é crucial, pois demonstra que bonecas com características adultas e uma forte identidade já existiam e eram populares. Ruth Handler, a criadora da Barbie, só admitiria décadas após o lançamento de sua boneca ter visto Lilli durante uma viagem à Suíça em 1956. Mesmo assim, Handler insistia que a ideia de uma boneca adulta havia surgido em sua mente muito antes, minimizando a conexão direta com Lilli e solidificando a narrativa de uma criação completamente original para a Barbie. A existência e o sucesso de Bild Lilli questionam diretamente a originalidade da Barbie e a narrativa de sua invenção.

Acusações de espionagem e silenciamento

A investigação de Tarpley Hitt em “Barbieland” não se limita a apontar a existência prévia de Bild Lilli. Ela avança para alegar que a Mattel não apenas se inspirou na boneca alemã, mas também empregou táticas questionáveis para replicá-la e, posteriormente, para eliminar a concorrência e suprimir qualquer rastro de sua verdadeira origem, configurando um cenário de espionagem industrial e manipulação.

A missão de copiar Lilli

Um dos relatos mais surpreendentes do livro descreve um episódio envolvendo Jack Ryan, um engenheiro crucial da Mattel. Segundo Hitt, durante uma visita de Ryan a fábricas no Japão, Ruth Handler teria colocado uma boneca Lilli na pasta do engenheiro com uma instrução clara e concisa: “Veja se você consegue copiar isso”. Este ato, se verdadeiro, transforma a inspiração em um pedido direto de plágio, marcando uma linha tênue entre a admiração por um produto e a intenção de replicá-lo sem consentimento. As implicações éticas e legais de tal solicitação são profundas, sugerindo que a Mattel tinha pleno conhecimento da boneca Lilli e intencionalmente buscou reproduzir suas características para criar sua própria versão. A decisão de usar um engenheiro para esta tarefa sublinha a seriedade da intenção de Handler de ter um produto similar no mercado rapidamente.

O sucesso precoce e a supressão da concorrência

Enquanto a empresa alemã detentora dos direitos de Bild Lilli trabalhava para obter a aprovação da patente americana para sua boneca, um processo que se concretizaria em 1960, a Mattel já estava colhendo os frutos de sua versão. Tarpley Hitt revela que, antes mesmo da patente de Lilli ser concedida nos Estados Unidos, a Mattel já havia vendido “quase US$ 1,5 milhão” em bonecas Barbie. Este sucesso financeiro inicial e meteórico, alcançado antes que a proteção legal da Lilli pudesse ser plenamente estabelecida nos EUA, coloca a Mattel em uma posição vantajosa no mercado.

A história culmina quando, diante da ameaça legal e da concorrência, a Mattel decidiu adquirir os direitos mundiais da boneca Lilli. Embora a compra pudesse ser vista como uma solução legal para um problema de propriedade intelectual, o livro de Hitt sugere um propósito mais sombrio. A autora afirma que a Mattel não apenas comprou os direitos, mas “enterrou” a boneca Lilli, com “investigações sobre Lilli” tendo o hábito de desaparecer dos registros públicos. Esta ação implicaria uma tentativa deliberada de apagar a história da boneca original e remover qualquer evidência que pudesse minar a narrativa de originalidade da Barbie. A supressão dos registros públicos, se comprovada, aponta para uma estratégia corporativa agressiva para controlar a narrativa e eliminar rastros de um passado que a Mattel preferia manter escondido.

Consequências e o legado da controvérsia

As revelações contidas em “Barbieland: The Unauthorized History” de Tarpley Hitt representam um desafio significativo à imagem cuidadosamente construída da Barbie e, por extensão, à própria Mattel. Ao expor um suposto passado de imitação, exploração e supressão, o livro força uma reavaliação da boneca que por tanto tempo foi celebrada como um ícone de inovação e empoderamento. A narrativa de Hitt destoa drasticamente da versão oficial, sugerindo que o legado revolucionário da Barbie pode ter sido construído sobre fundamentos menos éticos do que o público sempre imaginou.

As implicações dessas alegações vão além da simples controvérsia sobre a origem de um brinquedo; elas tocam em questões mais amplas de propriedade intelectual, ética corporativa e a forma como as grandes empresas moldam e controlam as histórias de seus produtos. A recusa ou a incapacidade da Mattel em abordar as acusações de forma mais substancial — com um porta-voz afirmando apenas que a empresa “está ciente do livro” — pode ser interpretada de várias maneiras. Para alguns, é uma tática para evitar alimentar a controvérsia; para outros, pode ser um sinal de que há verdade nas alegações que a empresa prefere não discutir publicamente. Independentemente da postura da Mattel, o livro de Tarpley Hitt já está incitando um debate importante sobre a autenticidade e a integridade da história da Barbie, convidando o público a olhar além da superfície brilhante e questionar as narrativas corporativas.

Perguntas frequentes

Qual é a principal revelação do livro “Barbieland: The Unauthorized History”?
O livro de Tarpley Hitt revela que a Barbie pode não ter sido uma criação original revolucionária, mas sim uma “imitação barata” da boneca alemã Bild Lilli, cujo sucesso foi orquestrado por meio de estratégias de marketing agressivas, alegadas táticas de espionagem e supressão da história original.

Quem foi Bild Lilli e qual sua relação com a Barbie?
Bild Lilli foi uma boneca alemã lançada em 1955, originária de uma tira cômica popular. Ela era uma figura de mulher adulta e independente, muito popular na Europa, e precedeu a Barbie (lançada em 1959). O livro sugere que Lilli foi a principal inspiração para a Barbie, e que a Mattel teria copiado e posteriormente “enterrado” a história de Lilli.

A Mattel se pronunciou sobre as alegações do livro?
Sim, um porta-voz da Mattel disse ao jornal The Post que a empresa “está ciente do livro”. No entanto, não houve um pronunciamento detalhado ou uma refutação formal das alegações feitas por Tarpley Hitt.

Como essas revelações afetam a imagem da Barbie?
As revelações do livro desafiam a narrativa de longa data da Barbie como um ícone de inovação e empoderamento. Elas levantam questões sobre a originalidade da boneca e a ética por trás de sua criação e promoção, podendo levar a uma reavaliação pública da história e do legado da marca.

Para aprofundar-se nesta intrigante investigação sobre a verdadeira história por trás da boneca mais famosa do mundo e formar sua própria opinião, procure o livro “Barbieland: The Unauthorized History” de Tarpley Hitt nas principais livrarias e plataformas online.

Fonte: https://www.metropoles.com

Share.

Comments are closed.