Investigação revela condições desumanas em casas de repouso clandestinas em Ribeirão Preto, São Paulo. Famílias pagavam até R$ 2,5 mil mensais, mas idosos eram encontrados em situação de abandono. Após a prisão da proprietária, Eva Maria de Lima, 40 anos, proprietária de três unidades da “Meu Doce Lar”, detalhes chocantes sobre o tratamento oferecido aos residentes vieram à tona.

As investigações tiveram início após a divulgação de vídeos que mostravam idosos em condições precárias, deitados no chão, sem roupas e aparentemente sofrendo. Em abril, uma operação conjunta entre o Ministério Público, a Vigilância Sanitária, as secretarias de Assistência Social e Saúde e a Polícia Civil interditou os locais, localizados nos bairros Alto da Boa Vista, Marincek e Centro, resgatando 50 idosos. As casas apresentavam graves problemas de higiene, superlotação, falta de profissionais qualificados e ausência de prontuários médicos.

Apesar da interdição judicial, as unidades continuaram a operar, recebendo novos pacientes. O promotor de Justiça da Pessoa Idosa, Carlos Cezar Barbosa, classificou a atitude como um “atrevimento”. A proprietária, Eva Maria de Lima, foi presa sob a acusação de descumprimento de medidas judiciais e pode responder por crimes previstos no Estatuto do Idoso. Sua defesa alega que, enquanto esteve à frente dos estabelecimentos, houve zelo e dedicação aos idosos, muitos deles de baixa renda e abandonados pelas famílias.

No último domingo, 36 idosos foram resgatados das casas clandestinas. Sete deles precisaram ser internados em unidades de saúde. Os demais foram encaminhados para instituições sob os cuidados da Prefeitura de Ribeirão Preto. O município de Brodowski, que custeava as despesas de dois idosos, rescindiu o contrato com a “Meu Doce Lar” e transferiu os pacientes para outra casa de repouso.

Familiares relatam terem encontrado os idosos sozinhos, sem comida e em condições deploráveis. Ex-funcionários revelam que Eva Maria de Lima ordenava que os pacientes fossem amarrados com lençóis após o café da manhã e durante a noite, devido à falta de cuidadores. Eles também relataram agressões físicas e restrição no uso de fraldas, com apenas três unidades disponíveis por dia, o que resultava em pacientes permanecendo sujos por longos períodos.

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso, incluindo a responsabilidade das famílias dos idosos. O Ministério Público investiga se houve negligência familiar e cobra políticas públicas para garantir o atendimento adequado aos idosos vulneráveis. Segundo o promotor Carlos Cezar Barbosa, a situação evidencia a omissão do poder público e abre espaço para a atuação de “instituições particulares mal-intencionadas”.

Fonte: g1.globo.com

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