Um habitante marinho de aparência singular guarda em seu sangue um segredo vital para a saúde humana. O caranguejo-ferradura ( Limulus polyphemus), muitas vezes ignorado, possui um sangue com propriedades únicas, utilizado na produção de vacinas, medicamentos e materiais hospitalares indispensáveis, como seringas e cateteres.

A característica mais marcante desse sangue é sua coloração azul, resultado da presença da proteína hemocianina, rica em cobre. Nos humanos, a proteína transportadora de oxigênio contém ferro, conferindo ao sangue a cor vermelha.

A indústria farmacêutica se interessa particularmente por uma substância presente no sangue do caranguejo-ferradura: o lisado de amebócitos do limulus (LAL). Essa substância possui a notável capacidade de detectar, em testes de produção, até as menores quantidades de endotoxinas, toxinas liberadas por bactérias perigosas.

Essa habilidade garante a segurança de diversos procedimentos médicos. O reagente LAL é utilizado para testar a esterilidade de produtos injetáveis ou implantáveis no corpo humano, assegurando que milhões de procedimentos sejam realizados com a segurança necessária a cada ano.

O caranguejo-ferradura é um verdadeiro “fóssil vivo”, presente na Terra há aproximadamente 450 milhões de anos, muito antes dos dinossauros. A espécie sobreviveu a cinco extinções em massa e manteve poucas alterações morfológicas ao longo do tempo, o que o torna valioso para compreender a evolução animal.

Seu sangue contém amebócitos, células que detectam endotoxinas bacterianas e desencadeiam uma rápida coagulação. Essa resposta forma uma barreira gelatinosa que isola e neutraliza patógenos, protegendo o animal de infecções em ambientes marinhos ricos em bactérias. Além disso, a hemocianina presente no sangue permite que o caranguejo respire em condições de baixo oxigênio, comuns em seu habitat natural.

Esses animais são encontrados nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico e podem atingir de 38 a 48 cm, dependendo do sexo. Eles preferem águas costeiras rasas, com areia fofa ou lamacenta, onde se enterram para se alimentar e se proteger de predadores. Sua dieta inclui vermes, moluscos e restos de organismos mortos, promovendo a reciclagem da matéria orgânica marinha.

Apesar do nome, o caranguejo-ferradura não é um crustáceo, mas sim um artrópode, mais próximo de aranhas e escorpiões.

A crescente demanda pelo sangue do caranguejo-ferradura tem colocado sua sobrevivência em risco. Apesar de os animais não serem mortos durante a extração do sangue, muitos não resistem ao transporte de volta para o seu habitat. A espécie já é considerada vulnerável em algumas regiões pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Uma alternativa promissora é a substituição do sangue por tecnologias como o fator C recombinante (rFC), que replica a função do LAL em laboratório. A implementação de regulamentações rigorosas, a limitação da coleta, a proteção dos habitats costeiros e o incentivo ao uso de substitutos sintéticos são medidas essenciais para garantir a conservação desta espécie.

Fonte: www.metropoles.com

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